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Pontos de Interesse

Argaçosa: o sargaço e sal

O topónimo «Argaçosa», com génese em «argaço» (Almeida Fernandes, 1994, pp. 31 a 33), revela a importância da apanha do sargaço neste local. Quer a recolha do sargaço, quer a extração do sal eram possíveis em virtude da franca entrada das águas do mar nesta área do estuário do Lima, antes do assoreamento progressivo do seu leito, especialmente a partir do século XV.  

Não podemos também esquecer a influência das oscilações climáticas e da variação do nível médio das águas do mar sobre o potencial de exploração salineira no estuário do Rio Lima. O curto episódio de aquecimento, conhecido por ótimo climático medieval, e correlativa subida do nível médio das águas do mar terá sido preponderante para o período áureo do importante couto salineiro Meadela – Portuzelo. O Ótimo Climático Medieval foi um período de aquecimento climático que terá ocorrido desde finais do século XVIII (Granja, 2002) ou meados do século IX (Alveirinho et al., 1997; Carvalho et at, 2006; Bradley et al., 2003; Mann et al., 2009) até finais do século XIII ou princípio do século XIV. Neste período, a elevação do nível médio das águas do mar terá implicado o recuo da linha de costa, ocorrendo a invasão dos sectores mais baixos do litoral pelas águas do mar. Durante a Idade Média, a entrada do mar no estuário do rio Lima terá alcançado, pelo menos, o lugar de Santa Marta, onde a documentação coeva relata a presença de salinas. As Inquirições Afonsinas testemunham que a apanha de sal era realizada à data até aos lugares de Portuzelo e mesmo Santa Marta. A penetração da água salgada no estuário do Lima, associada à existência de áreas de sapal, com acumulações arenosas, facilitaram a construção de marinhas, de formato longitudinal.

As salinas são um complexo sistema articulado de valas, canais e tanques de decantação e evaporação das águas. Este sistema é separado por diques e taludes, que são colonizados por vegetação típica do sapal. As espécies mais vulgares são: a salicórnia (Salicornia ramosissima), a gramata (Sarcocornia perennis) e a gramata branca (Halimione portulacoides). Na atualidade, será já difícil observar e interpretar no terreno, este conjunto de componentes das salinas da Argaçosa, que já não se encontram em laboração.

As salinas albergam um biótopo muito importante para as aves limícolas, oferecendo-lhes alimento, mesmo durante a preia-mar, bem como refúgio e abrigo contra o vento.

Entre a Meadela e Santa Marta de Portuzelo encontramos um dos maiores centros salineiros medievais do Minho, conforme demonstrado por Brochado de Almeida (2005).

É notável o número de referências a salinas ou «cortes» (frações de salina) presentes nas inquirições de 1258 respeitantes à paróquia da Meadela. É sugestiva a transcrição onde surge descrito que na Meadela “os lavradores apanham o pão e o sal”. Nesta data mais de vinte indivíduos da Meadela exploravam cortes de salina, numa área denominada Pereira ou Pereiras (Fernandes, Almeida, 1994, p. 151).

Nesta freguesia, ainda há duzentos anos se fazia extração de sal, sendo esta uma atividade com grande importância até ao século XVIII.