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Garrano

O Garrano é uma raça do Equus caballus L., nativa da Península Ibérica, que com cerca de 1,30 m de estatura apresenta diversas semelhanças com os póneis.

A raça garrana: que cavalo é este?

Os cavalos da Península Ibérica foram classicamente divididos em dois grupos ou troncos: os póneis ‘celtas’ (Equus caballus celticus) e os cavalos ‘ibéricos’.

Os póneis do tronco Equus caballus celticus apresentam uma estatura pequena, perfil recto ou côncavo e habitam principalmente regiões frias, húmidas e montanhosas.  Os representantes vivos deste grupo subdividem-se em raças como o Garrano, em Portugal, e o Asturcón e o Pottoka, em Espanha. Verifica-se uma maior proximidade genética entre o Garrano e o Asturcón.

Os cruzamentos inter-raciais que ocorreram ao longo dos tempos na Península Ibérica, incluindo com raças trazidas por povos que ocuparam este território em diferentes períodos históricos,  desde o domínio romano às invasões germânicas e árabes, conduziram à diferenciação das três raças que, em Portugal, se podem considerar verdadeiramente autóctones: o Lusitano, o Sorraia e o Garrano.

As especificidades das características zoomórficas e dinâmicas comportamentais do garrano estarão relacionadas com o isolamento do seu habitat de montanha, bem como a sua criação em liberdade, com escassa influência humana. Deste modo, a seleção natural permitiu-lhe aprimorar uma excecional adaptação e integração nos ecossistemas de montanha.

Não obstante o estado semisselvagem em que é criado, a raça encontra-se morfologicamente bem caracterizada e padronizada, graças ao crucial papel desempenhado pela Associação de Criadores de Equinos de Raça Garrana (ACERG) ao nível da apreciação e classificação morfológica dos animais reprodutores, com um aumento assinalável do número de garanhões e de éguas reprodutoras inscritas no Registo Zootécnico.

Importantes fontes arqueológicas e históricas testemunham a importância do cavalo no modo de vida dos povos que ocuparam a Península Ibérica. Desconhece-se a cronologia mais antiga da gravação de equinos no Noroeste da Ibéria, contudo é possível que muitas destas gravações correspondam à Idade do Bronze e do Ferro.

Em Viana do Castelo, encontram-se numerosas representações gravadas de equídeos que remontam a estas cronologias genéricas. Estas ocorrem, quer na plataforma litoral, quer nas vertentes das serras de Santa Luzia e de Perre, que bordejam os vales do Âncora e do Lima. Refiram-se os equídeos e cavaleiros gravados num afloramento granítico do sopé da vertente sudoeste do alcantilado de Montedor, em Fornelos, da Laje da Churra, localizados na freguesia de Carreço, bem como os cavalos patentes nas lajes gravadas no lugar da Breia, em Cardielos e Serreleis.

Estrabão, geógrafo grego que viveu no século I a.C., descreve a Ibéria como produtora de um grande número de cavalos
selvagens.

Os equinos do tronco céltico terão, de igual modo, desempenhado um papel relevante no repovoamento e fixação da população durante a Reconquista Cristã e no período da fundação da nacionalidade.

Cruzando o Atlântico a bordo das naus quinhentistas, o garrano esteve, igualmente, ao serviço das incursões exploratórias do Novo Mundo. Ajudou no reconhecimento de novos continentes, na instalação do homem nas mais diversas paragens, no desenvolvimento de economias. O património genético do garrano foi introduzido no continente americano, a par de outras raças de cavalos de origem Ibérica, pelos conquistadores espanhóis e portugueses.

Até à segunda metade do século XX, antes da mecanização dos trabalhos agrícolas e da difusão do acesso ao transporte ferroviário e automóvel, o garrano desempenhava um papel muito importante na economia agropastoril, sendo intensamente utilizado pelas comunidades rurais.

A adaptação milenar do garrano ao habitat de montanha conferiu-lhe uma especial aptidão enquanto animal de transporte de pessoas e mercadorias em áreas de morfologia acidentada, com relevos íngremes. Por outro lado, os lavradores das regiões serranas do Minho encontraram na robustez do garrano um valioso auxiliar para os trabalhos de tração e lavoura no sistema agrícola de minifúndio. A sua robustez e resistência fizeram do garrano parceiro privilegiado dos almocreves no Minho, desde o período medieval até alvores do século XX. No seu natural andamento, designado por andadura, podiam percorrer, sem grande fadiga, 150 quilómetros em seis horas. O garrano será paulatinamente destituído das suas nobres missões, especialmente a partir da década de 40 do século XX. 

A imbrincada relação do garrano com a nossa história coloca-nos, simultaneamente, perante um desafio e uma oportunidade: preservar este legado cultural e genético e reinventar as funções do garrano nos modos de vida, aspirações e necessidades das novas gerações.

O projeto Percursos do Homem e do Garrano elegeu como missão aproximar o garrano das nossas populações e visitantes, conferindo-lhe um novo protagonismo na fruição turística e de lazer dos nossos espaços naturais de excelência e promovendo a divulgação das características, habitat e potencialidades da raça.

Características da raça 

Os garranos são animais de pequena estatura (altura no garrote inferior a 1,35m), com peso aproximado de 290 kg, de perfil de cabeça reto ou côncavo, cabeça fina e grande, principalmente nos machos, onde se destacam amplas narinas. O pescoço curto é bem musculado, a garupa é forte e larga e os membros são pequenos e fortes. A pelagem é castanho-escura, sendo a crina e a cauda pretas e muito densas. Embora não apresente manchas, pode ter tons mais claros no focinho, ventre e membros.

Sendo um cavalo pequeno, apresenta uma sólida estrutura e andamento curto, transmitindo uma elevada segurança, típica de um animal habituado a enfrentar caminhos íngremes e pedregosos. Tal como outros cavalos de pequena estatura, o garrano apresenta um andamento artificial, denominado de andadura ou passo baixo.

Padrão da Raça

Atualmente o estalão racial aprovado é o seguinte:

Denominação original - Tieldões

Tipo - Hipermétrico (peso cerca de 290 kg) e mediolíneo.

Altura - Medida ao garrote, com hipómetro, nos animais adultos (3 anos para as fêmeas e 4 anos para os machos). O máximo permitido - 1,35 m.

Média: Fêmeas: 1,28 m Machos: 1,30 m

Pelagem - Castanha comum, podendo tender para o escuro. Quase sempre sem sinais. Topete farto. Crinas pretas, tombando para ambos os lados. Cauda também preta.

Temperamento - Sóbrio, dócil, com muita vivacidade. É um cavalo de fundo, fácil de ensinar e resistente. 

Andamentos - Geralmente fáceis, rápidos, de pequena amplitude mas altos. Nos caminhos de montanha são firmes, a subir e a descer, e cuidadosos com pedras e obstáculos das estradas acidentadas.

Tendência natural para a Andadura (molliter incedere) * e Passo Travado (numeratim)**

* O cavalo executa balanceando-se e adiantando ao mesmo tempo os dois membros do mesmo lado, e neste passo metendo tanto a perna, que o pé se adianta sob a pegada da mão, sendo simultâneas as pancadas de cada bípede lateral. É o molliter incedere, andar suavemente.

** Cavalo executa levantando e apoiando separadamente cada membro, de modo que as pancadas de cada um se ouvem todas separadamente. É o numeratim dos romanos: um, dois, três, quatro, não como no passo no qual os apoios são dois a dois.

Aptidão - Sela e transporte de carga, com especial predisposição para tiro ligeiro (Atrelagem) e percursos de montanha.

Cabeça - Perfil recto, por vezes côncavo sendo esta última característica apanágio da sua pureza étnica. Cabeça fina mas vigorosa. O crânio insere-se sempre na face com grande inclinação, de forma que a parte superior da fronte é convexa de perfil; a crista occipital é pouco saliente em relação aos côndilos. Órbitas salientes sobre a fronte, transversalmente plana. Os olhos são redondos e expressivos. Narinas largas. Orelhas médias. Os dentes são característicos. As ganachas são fortes e musculosas.

Pescoço - Bem dirigido e musculoso, mas curto e grosso, especialmente nos garanhões.

Garrote - Baixo, mas destacado, com transição suave entre o pescoço e o dorso.

Peitoral - De amplitude média e musculoso.

Costado - De costelas chatas e verticais, inseridas obliquamente na coluna vertebral proporcionando um flanco harmonioso.

Garupa - Forte, arredondada e larga, tendente para o horizontal, de comprimento e largura de dimensões idênticas.

Espádua - Vertical e curta.

Dorso - Bem dirigido, tendendo para o horizontal.

Rim - Musculoso, um pouco convexo, bem ligado ao dorso e garupa.

Membros - Aprumados, curtos mas grossos. Fortes, quartelas direitas. Cascos cilíndricos.